«Passos, para além de ser o primeiro-ministro
mais desqualificado da democracia, superando Santana Lopes em incompetência, é
também um político sem qualquer escrúpulo como nunca tínhamos visto. Um
dirigente partidário que mentiu em tudo o que disse, mandou dizer e deixou que
fosse dito no chumbo do PEC IV, o qual afundou Portugal, e na campanha
eleitoral. Depois de se abraçar ao pote, continuou a mentir sem parar. Uma das
colossais mentiras que repete obsessivamente é a do Governo PS ter endividado o
País por causa de obras faraónicas e políticas eleitoralistas, assim martelando
uma ideia que se consolidou em parte maior da sociedade: os socialistas são
irresponsáveis, ou corruptos, ou loucos, ou tudo junto, e foi exclusivamente
por isso que tivemos de pedir ajuda de emergência em 2011. É, no fundo, algo
que já conhecemos da esquerda pura e verdadeira, a bandeira do racismo
ideológico – portanto, um instrumento discursivo ao serviço de radicalismos.
Aparentemente, uma pobre figura de gente e uma
táctica tão chunga seriam facilmente contrariadas, desmontadas, denunciadas e
punidas pela inteligência. Porque é um registo de estúpidos e para estúpidos.
Mas nada disso se passa no Parlamento, tirando algumas nobres excepções com
Pedro Silva Pereira à cabeça. O que se tem visto nesta legislatura são
variações do que este pedacito acima do debate mostra. De um lado, um líder da
oposição que é tão frágil que chega a causar vergonha alheia, sendo
confrangedor ouvi-lo a largar vacuidades que nem a própria bancada tem estômago
para aplaudir. Do outro, um ser a quem saiu a taluda, pois faz à comunidade o
que ninguém, nem na direita conservadora, julgava possível que fosse feito. E
fá-lo sem contestação popular nem riscos políticos. Daí o seu ar de satisfação,
o rosto risonho com que reduz ao estatuto de palhaço o secretário-geral do PS.
E faz sentido. Esta opera-bufa obedece a uma lógica interna. Atente-se no modo como
Seguro assume o discurso de Passos sobre o endividamento, o qual é um discurso
contra o PS e contra o Estado social para além de ser a retórica com que tenta
abafar as responsabilidades passadas e presentes do PSD na situação do País, e
chega ao ponto de se sair com esta frase de arrebimbomalho:
“O senhor também ficará conhecido como o campeão
do endividamento da dívida pública.” O subtexto é delicioso, a
avaliar pelo prazer que a expressão facial de Seguro e Passos revela. Eles
estão divertidos. O tópico do endividamento, e as bocas sobre quem é afinal o
seu campeão, ou campeões, provoca uma risota pegada a estes dois comparsas que
já levam dois anos e meio a gozar com o pagode.»
In Aspirina B
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