«Primeiro, os Gato Fedorento não se venderam;
alugaram uns sketches que foram
travestidos em reclamos, com logótipos colados a cuspo às piadas e pronto. O
dispositivo era cómodo e até prémios de criatividade rendeu (pasme-se).
Mas o lado negro tem a sua força, sedosa, sedutora.
Uma vez emigrados para a galáxia hiperestilizada e feérica dos spots
publicitários, com as suas paradas de maquilhadoras solícitas, criativos
aduladores e filmagens no estrangeiro, como escapar do mundo MEO? Regressando
aos esquálidos dias dos adereços da loja do chinês e dos cenários lá nos fundos
da SIC?
Não. Dando novo passo em frente, abismo adentro.
Assim nasce aquela coisa em que o Steven Seagal consegue parecer, face aos
coadjuvantes, um excelente actor. E onde Rodrigo Guedes de Carvalho passou de
compère de Sousa Tavares a alvo de todas as virgens ofendidas.
Foi muito mau, e não só pela falta de pilhéria.
Chamar "gatunos" aos nossos governantes não deve ser coisa dita em
tom de chiste, mas sim a sério. Indivíduos como Passos Coelho e Paulo Portas
não podem ser "corridos" a "bananos" de fantasia. Têm de
ser mesmo corridos do Estado que parasitam, e o mais depressa possível.
Mas fazer humor com a ânsia de acção radical que já
alastra é bom para a ordem pública. É válvula de escape que acalma e domestica,
ao remeter para o reino do lúdico qualquer desejo de violência. Esta rábula fez
mais pela segurança da cáfila que nos governa do que um pelotão de gorilas da
PSP.»
Luís Raínha in Jornal i
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