“Toma lá
30 milhões, dá cá sete e não se fala mais nisto.
A negociar
assim até eu, que de trafulhices e ladroeiras não percebo nem a ponta de um
corno, me podia tornar empreendedor, para gáudio d'El-Rei Coelho, O
Benfazejo.
Os
Estaleiros de Viana foram subconcessionados, dizem-nos os estadistas da praça,
anunciando sem corar o renascimento
da empreitada numa espécie de páscoa antecipada, de aurora dourada. O que não
disseram, mas a gente sabe, é que o Estado vai arrecadar 7 milhões, aos soluços
e ao longo de muitos anos, e em troca vai gastar - já - entre 25 e 30 milhões
para indemnizar os mais de 600 trabalhadores despedidos.
Se o meu
primo Bonifácio, que tem uma tasca a Alfama, gerisse o botequim assim, a
oferecer pipis e moelas a quem lhe encomenda um copo de três, há muito que o
Bonifácio tinha dado com os burros na água e com os costados na mitra.
Mas o
Bonifácio é finório e, essa é que é essa, sabe que não tem papalvos a
ampararem-lhe os golpes e a pagarem-lhe os calotes.
Por um
prato de lentilhas, vão-nos pondo as joias no prego. E os agiotas, ufanos,
pedem-nos sacrifícios de vida e morte. Mais de morte.”
In quatro almas