"A estratégia do governo é clara, sobreviver até ao
final de Junho de 2014 para poder proclamar a "libertação" de
Portugal. Pouco importa que a austeridade continue a ser imposta ao nosso país
ou que nos venhamos a encontrar no final do primeiro semestre de 2014 pior do
que estávamos no início do programa de assistência financeira em Junho de 2011.
O único objectivo é sobreviver até essa data e poderem anunciar a saída da
troika como uma grande vitória nacional. Não será uma grande vitória, como
infelizmente constataremos depois dessa data. Entretanto, vão empurrando com a
barriga.
Ninguém acredita nas projecções macro-económicas,
nem no cumprimento das metas orçamentais estabelecidas, para já o que é preciso
é que haja orçamento aprovado para 2014, com o mínimo de contestação popular. É
por isso que o governo amplifica alguns sinais positivos e abafa os negativos,
mesmo correndo o risco de nos próximos meses não terem um único sinal positivo
para apresentarem. E o que não faltam são sinais que exigiriam maior cautela e
prudência por parte do governo.
Os últimos dados do Eurostat sobre o comércio a
retalho na União Europeia mostram-nos que a queda em Portugal foi a segunda
maior em termos homólogos (-2,2%) e a maior em cadeia (-6,2%). O que estes
dados nos indicam é uma quebra acentuada no consumo privado durante o ano de
2013, nas vésperas da aprovação de um orçamento que traz mais um enorme corte
no rendimento de milhares de famílias e pensionistas.
Também no que ao investimento estrangeiro em
Portugal diz respeito as notícias não são nada animadoras. Aliás, pela primeira
vez desde o início da série (1995) o investimento estrangeiro líquido será
negativo. Ou seja, as empresas estrangeiras desinvestiram mais do que aquilo
que investiram nos primeiros oito meses do ano. Quanto ao crescimento, se é
verdade que houve um aumento em cadeia de 1,1% no segundo trimestre, também é
verdade que a Comissão Europeia, nas suas projecções de Outono, diz que será
nulo no terceiro e quarto trimestre. Estes dados recomendariam prudência e
cautela ao governo mas isso pouco importa quando o objectivo é apenas
sobreviver politicamente no presente. Amanhã, logo vê-se."
Por Pedro Nuno Santos
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