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sábado, 2 de novembro de 2013

O tratado europeu do autoclismo


Ontem, no Diário de Notícias, saiu este fantástico texto de Ferreira Fernandes, o qual passo a transcrever:
“Haverá quem pense que isto é uma questão de caca. E é: depois da moeda única, a União Europeia quer padronizar o autoclismo. Várias línguas, mas uma só descarga na sanita. A Europa - quando se prova o inverso por todo o lado - quer convencer-nos de que de cócoras somos todos iguais.
Uma comissão reuniu-se durante três anos e produziu um relatório de 122 páginas (e não, não foi entregue em rolo de folhas finas, os burocratas não sabem ir diretos ao assunto). As conclusões foram: as descargas devem ser só de cinco litros, com a alternativa de meias descargas de três litros. Enfim, a receita do costume, cortar (hoje, os autoclismos comuns levam seis litros).
Se bem se lembram, o nome do sistema que nos levou à moeda comum era ECU (do inglês European Currency Unit), mas ECU estava mais adequado para esta nova medida da sanita única. Mobiliário muito ligado à cultura - O Pensador, de Rodin, parece sentado numa sanita e é, aliás, nessa posição que meia Europa leu poesia e jornais - a loiça sanitária vai sofrer uma descarga única, tão própria destes tempos cinzentos. Olha, era uma bela ideia para a Joana Vasconcelos (não é desdouro para ninguém, Marcel Duchamp também esculpiu um urinol). Para retratar os tempos modernos, ela devia fazer (não em mármore, como Rodin, mas em loiça, não sentado, mas de pé, e sempre pensador) um homem carregando no botão do autoclismo, e a olhar o fluxo fraquito de água. Hoje, até o que vai pelo cano abaixo é medíocre”.


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