«A rapaziada do CDS-PP reunida
em Congresso parece incomodada com o impacto negativo da escolaridade
obrigatória de 12 anos e o rapaz da Jota acha mesmo que deve ser reduzida.
Eles não sabem o que dizem, podiam
limitar-se a bater palmas à genialidade e visão do irrevogável Dr. Portas mas
entusiasmam-se e depois dizem uns disparates. Umas notas breves.
Em primeiro lugar, o nível de
desenvolvimento e necessidades de qualificação das sociedades actuais exigem
cada vez mais cidadãos qualificados e informados o que passa necessariamente,
como a história demonstra pelo alargamento progressivo do tempo de escolaridade
obrigatória. É evidente que nem todos os países caminham á mesma velocidade e a
oportunidade histórica da decisão poderá ser discutível mas a tendência é
incontornável.
Por outro lado, tendo sido decido o
alargamento até aos 12 anos, a questão passa ser criar as condições de sucesso
para alunos e professores, ao nível de recursos, equipamento, espaço, apoios às
dificuldades, etc. tudo o que não tem acontecido. A questão é que os riscos de
abandono e insucesso de que fala a rapaziada do CDS-PP não advêm do alargamento
mas da qualidade das políticas educativas que, obviamente, produziam exclusão e
abandono pois são “darwinistas”, selectivas, apenas os mais dotados
sobreviverão.
A questão não é, evidentemente,
reduzir a escolaridade para que os “descamisados” não tenham ensino e formação,
mas sim diversificar percursos e ofertas educativas para que todos possam,
tanto quanto possível, aceder a qualquer tipo de qualificação, mais académica e
prosseguindo estudos, mais profissionalizante e saindo para o mercado de
trabalho. A exclusão da escola é a primeira etapa da exclusão social. Parece-me
razoavelmente claro.
Finalmente, numa análise de fino
recorte ético e científico, a rapaziada do CDS-PP afirma para sustentar a
redução da escolaridade obrigatória que “a liberdade de aprender” é um “direito
fundamental de qualquer pessoa” tal como, acrescento eu, “o direito à asneira”.
A ver se nos entendemos, o “direito
à educação” é um direito humano universal e consagrado constitucionalmente,
(por enquanto), reduzir a escolaridade obrigatória, não conheço em quantos
anos, no quadro actual é abrir a porta, ainda mais, à discriminação social, à
possibilidade de mobilidade social a uma escola que não será, não é para todos,
para todos, ou seja, atentar contra os direitos.
Como nota final, recordo aquela
mítica afirmação da Dra. Ferreira Leite que face às dificuldades que a
democracia atravessa afirmou que seria melhor “suspendê-la”.
Crato e a rapaziada do CDS-PP
pensará da mesma forma, existem miúdos que experimentam dificuldades no seu
percurso escolar, por várias razões. Seria bem mais fácil para todos e mais
barato, acham, que lá não estivessem. Para quê obrigar os pobres, os pouco
inteligentes, os desmotivados, os preguiçosos, os deficientes, os … a estarem
na escola.
Que chatice, se assim não fosse a
escola seria fantástica.»